NOVA TENTATIVA

AGORA, EM 2017, É QUE VAI SER.

As passagens de ano são pródigas em mudanças nas nossas vidas.

Não está bem assim, vou rectificar. As passagens de ano são pródigas em projectos de mudanças nas nossas vidas.

Uma das mais frequentes tem a ver com a alimentação, especialmente no sector feminino:

- Este ano vou fazer dieta logo desde Janeiro para não sofrer tanto no ginásio quando chegar a época da praia. Mas só vou começar depois dos Reis, assim como assim, mais uns dias não têm importância.

Com cada vez mais homens passar-se-á o mesmo quanto às dietas alimentares, mas o mais provável neles será que tomem decisões, ou melhor, projectem decisões, muito mais radicais e difíceis de cumprir:

- Este ano vou ‘fazer pisca’ sempre que mudar de direcção.

São as mesmas promessas do ano anterior e serão as mesmas a projectar no ano seguinte.

Uns queixar-se-ão da rotina dos dias, meses e anos, embora pouco façam para mudar. Outros reclamarão quando alguém ou algum acontecimento os obrigar a quebrar os seus hábitos. Somos assim, queixamo-nos quando chove e quando está calor, desesperamos com as secas e clamamos pela neve para poderemos ir esquiar.

Viver é, em suma, o que todos ‘tentamos’ fazer.

Em 2013 publiquei a minha página como fotógrafo, mas não mantive as tais rotinas de que falei há pouco e, a determinada altura, optei por cancelá-la. Estou agora a reabri-la, com novo formato e uma vontade também nova. Lá está, no início de um novo ano.

Uma daquelas regras de sensatez que são indiscutíveis manda-nos tentar sempre fazer mais e melhor. É o que leva os fotógrafos num estúdio a martirizar os modelos ou a voltarem aos locais que já fotografaram inúmeras vezes. É também o meu desígnio para esta ‘nova’ página.

Para ilustrar o meu discurso vou usar as imagens de uma casa abandonada nas margens da Barragem da Aguieira.

Quando reparei naquele quadro, um padrão bem uniforme constituído pelas árvores e interrompido pela construção solitária, achei que poderia dar uma fotografia engraçada. Mas a hora, por volta do meio-dia em Setembro, não era favorável devido à luz muito dura e resolvi voltar ao pôr-do-sol.

Voltei e fiz a primeira imagem às 18:01.

 

 

Distraí-me depois com outros temas mas não esqueci a casa abandonada. Regressei ao mesmo local e resolvi disparar novamente. A luz pareceu-me ainda mais bonita e como estava sem tripé achei por bem porfiar a melhor nitidez possível. Segunda imagem às 18:54.

 

 

Mais tarde, quando seleccionava as fotografias no computador, apercebi-me de que havia uma diferença fundamental na parede da casa e que me tinha passado despercebida.

O sol, ao baixar, tinha projectado uma sombra na parede interior revelando a existência de uma janela na fachada frontal da qual não nos apercebemos antes.

Achei imediatamente que tinha encontrado as imagens ideais para servirem de metáfora para este texto: Graças ao facto de ter insistido no retrato da casinha abandonada, abriu-se-me uma janela para o que aí vem.

Insistir, fazer outra vez, fazer melhor, fazer do velho algo de novo.

Agora, em 2017, é que vai ser.