O PRIMEIRO DE AGOSTO

HÁ ALGUMAS PUBLICAÇÕES QUE MANTÊM REGULARMENTE ESPAÇOS PARA AS EFEMÉRIDES.

Quando há tempo para isso é engraçado passar os olhos pelo que “neste dia aconteceu” e ficar a par de curiosidades sobre catástrofes, acordos políticos, coroações, nascimentos e falecimentos. Mas a moda mais recente é o “Dia Mundial” de tudo e mais alguma coisa.

Aos mais antigos dias mundiais do Trabalhador e do Ambiente juntaram-se inúmeros outros como, por exemplo, dos Oceanos, do Teatro, da Árvore, do Riso e até do Beijo. Ontem foi o Dia Mundial do Orgasmo.

A par desta agenda mundial todos nós, decerto uns mais do que outros, também temos as nossas efemérides pessoais. A mais comum será o dia do aniversário mas as datas de casamento e do nascimento dos filhos também não são esquecidas.

Por prazer, ou por desgosto, há quem não se esqueça da data do pedido de namoro ou do primeiro beijo, na linha daqueles livrinhos conhecidos por “O meu diário”, tipicamente cor de rosa com florinhas e um pequeno cadeado, que antigamente as adolescentes alimentavam com as suas paixões e desencontros.

Agora já não se escreve nos Diários. Primeiro, porque já não se escreve. Ponto. Depois, porque ao contrário da pasmaceira de antigamente hoje os acontecimentos são tantos que não haveria tempo para registá-los todos. Finalmente, mas não menos relevante, porque a juventude agora é mais pragmática e prefere não deixar provas do que não se pode contar.

Diz ela:

- São nove da noite e ainda não me deste os parabéns. Faz hoje vinte e um anos que tivemos o nosso primeiro fim-de-semana sozinhos no Algarve. Já nem te lembras da data – e conclui, com o ar mais triste do mundo – Já não gostas de mim, é o que é!

Ele responde constrangido:

- Desculpa querida, mas ando tão cheio de preocupações... Agora por isso, temos de virar o nosso colchão da esquerda para a direita. Fez ontem três meses que o virámos da cabeça para os pés e as molas já estão a fazer novamente uma cova.

Estou para aqui a troçar de quem aprecia comemorar datas mas deve ser para exorcizar porque, confesso, eu próprio me comporto como sendo um deles todos os anos no dia 1 de Agosto.

Nesta data, em 1972, comecei a trabalhar. Em 1992 deixei de fumar.

Dezassete anitos acabados de fazer, mandrião nos estudos, queria ter dinheiro mas o pai não dava mesada. Empreguei-me na Companhia de Seguros Comércio e Indústria, que mais tarde se veio a chamar Bonança, mais tarde ainda Império Bonança e agora é a Fidelidade. Fui fiel ao primeiro e único emprego até que, quando se passou a chamar Fidelidade, pedi o divórcio e reformei-me.

Embora fosse um miúdo quando comecei a trabalhar já era profissional do cigarrito.

Os meus três irmãos, todos mais velhos, fumavam portanto tinha de os imitar para me manter ao nível e ser um homem.

 

ALBERTO (1976), Nikon F Photomic FTn, 50mm f/1.4S, Agfacolor CT21

 

Tenho um grande carinho por esta fotografia do meu mano do meio e com ela recordo (mais) duas efemérides. O sonho acabado de realizar de ter uma Nikon e a primeira vez que usei um filme diapositivo, vulgo, rolo de slides.

 

MANUEL (2009), Nikon D700, 50mm f/1.8D

 

Para acompanhar o slide anterior, fui buscar este “ficheiro” do meu irmão mais novo, também com o propósito de manter a narrativa focada no tabaco.

Eu fumava bastante. Sem exagero, uma média de dois maços diariamente. Nessa altura podia fumar-se no escritório, nos transportes, enfim, em todo o lado.

Até que um dia disse que não fumava mais. Assim, aparentemente do nada. E cumpri.

Esse dia foi o primeiro de Agosto de 1992.

Não pensem que vou dar conselhos sobre os malefícios do tabaco. Hoje estamos rodeados de informação que não existia quando me tornei fumador. Além disso, sou incapaz de criticar alguém por fumar, que mais não seja pelas dificuldades que recordo ter passado durante as várias tentativas para deixar o vício.

Mas festejo sempre esta data.

Agora vou aqui fazer uma conta. Um maço de ‘SG Ventil’, a marca que eu queimava, custa actualmente 4,30€. A dois maços por dia durante vinte e dois anos, ou seja 8.035 dias, terei poupado 69.101€. Nem sequer tenho de abater acompanhamento médico nem ansiolíticos porque não foram necessários.

 


NIKON D300, D700, F5 (2014) , Nikon D810, 16mm Fisheye f/2.8D

  

Usando o “guito” não gasto em tabaco para comprar máquinas fotográficas e objectivas, o meu outro vício e do qual não me consigo livrar, ficam cobertas todas as compras feitas ao longo dos últimos vinte e dois anos e ainda sobra o suficiente para estar atento às novidades da próxima Photokina em Setembro.

- Vês querida, como sou poupado? E quem é que sabe fazer contas?